Coeva do fogo, a cerâmica — do grego "kéramos”, ou "terra
queimada" - é um material de imensa resistência, sendo frequentemente
encontrado em escavações arqueológicas. Assim, a cerâmica vem acompanhando a
história do homem, deixando pistas sobre civilizações e culturas que existiram
há milhares de anos antes da Era Cristã.
Hoje, além de sua utilização como matéria-prima de diversos instrumentos
domésticos, da construção civil e como material plástico nas mãos dos artistas,
a cerâmica é também utilizada na tecnologia de ponta, mais especificamente na
fabricação de componentes de foguetes espaciais, justamente devido a sua
durabilidade.
A ORIGEM DA CERÂMICA
Estudiosos confirmam ser, realmente, a cerâmica a mais antiga das
indústrias. Ela nasceu no momento em que o homem começou a utilizar-se do barro
endurecido pelo fogo. Desse processo de endurecimento, obtido casualmente,
multiplicou-se. A cerâmica passou a substituir a pedra trabalhada, a madeira e
mesmo as vasilhas (utensílios domésticos) feitas de frutos como o coco ou a
casca de certas cucurbitácias (porongas, cabaças e catutos) .
As primeiras cerâmicas que se tem notícia são da Pré-História: vasos de
barro, sem asa, que tinham cor de argila natural ou eram enegrecidas por óxidos
de ferro. Nesse estágio de evolução ficou a maioria dos índios brasileiros. A
tradição ceramista — ao contrário da renda de bilros e outras práticas artesanais
— não chegou com os portugueses ou veio na bagagem cultural dos escravos. Os
índios aborígines já tinham firmado a cultura do trabalho em barro quando
Cabral aqui aportou. Por isso, os colonizadores portugueses, instalando as
primeiras olarias nada de novo trouxeram; mas estruturam e concentraram a
mão-de-obra. O rudimentar processo aborígine, no entanto, sofreu modificações
com as instalações de olarias nos colégios, engenhos e fazendas jesuíticas,
onde se produzia além de tijolos e telhas, também louça de barro para consumo
diário. A introdução de uso do torno e das rodadeiras parece ser a mais
importante dessas influências, que se fixou especialmente na faixa litorânea
dos engenhos, nos povoados, nas fazendas, permanecendo nas regiões interioranas
as práticas manuais indígenas. Com essa técnica passou a haver maior simetria
na forma, acabamento mais perfeito e menor tempo de trabalho.
Quando os populares santeiros, que invadiram Portugal no século XVIII,
introduziram a moda dos presépios, surgiu a multidão de bonecos de barro de
nossas feiras. Imagens de Cristo, da Virgem, Abades, de santos e de anjos
começaram a aparecer. Os artistas viviam à sombra e em função da Igreja ou dos
seus motivos. O mais célebre artista dessa fase foi Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho.
Pouco a pouco — da mesma forma que aconteceu com o teatro católico
medieval que foi transformado no Brasil em espetáculos populares como as
pastorinhas, o bumba-meu-boi e os mamulengos — a arte do barro foi se tornando
profana. Ao final, era o seu meio que os artistas começaram a retratar:
simplificaram as formas que passaram apresentar, sem nenhum artifício, tipos,
bichos, costumes e folguedos.
ORIGEM NO BRASIL
No Brasil, a cerâmica tem seus primórdios na Ilha de Marajó. Na segunda
metade do Oitocentos, a ciência arqueológica voltou-se para territórios e
continentes além de Grécia e Roma; assim, ocorreram escavações na Amazônia,
especialmente na ilha de Marajó sendo o centro de Santarém o mais generoso com
os pesquisadores.
Os arqueólogos consideraram os vestígios e pretendiam estabelecer as
origens dos povos amazonense e várias foram as hipóteses: nômades dos Andes,
vindos do Peru fugindo da conquista espanhola ou da América Central, e com
maiores possibilidades, das Antilhas. Outra seria um êxodo começado no Grande
Chaco e escavações em Quito têm encontrado provas de que as grandes culturas do
Peru e México tiveram origem no Equador. Essas pesquisas começaram em 1958,
quando foi descoberta uma aldeia datável de cerca de 5 mil anos na cidade
costeira de Valdívia; e desde então mais aldeias do mesmo período foram
descobertas no interior, na direção da Amazônia, com cerâmicas, instrumentos e
objetos decorativos revelando um nível insuspeitado de sofistificação. E nas
primeiras descobertas geográficas os europeus encontraram povoados que são
descritos com bastante reserva.
Mesmo o índio desconhecendo o torno e operando com instrumentos
rudimentares, conseguiu criar uma cerâmica de valor, que dá a impressão de
superação dos estágios primitivos da Idade da pedra e do bronze.
Foram identificadas várias fases da cerâmica brasileira , que foram
divididas em:
Ananatuba: a mais generalizada e provavelmente
atribuível às primeiras sedimentações datáveis entre o séc. VII e o X a.C. ,
apresentando uma técnica plenamente desenvolvida, povo dividido em tribos, cada
um ocupando uma única maloca e abrigando uma centena de moradores;
Mangueiras: pertencente ao grupo que sucessivamente
prevaleceu sobre o primitivo Ananatuba, sua duração estimada entre o séc. IX e
o XII;
Formiga: outro grupo coevo deste último, mas com
a cerâmica mais pobre;
Aruã :denominação dada por pesquisadores
europeus a um grupo que vivia em pequenas ilhas no Amazonas, tudo indicando uma
cultura bastante singular, em face do uso de urnas funerárias, um ritual de
notável contribuição na determinação de fases;
Marajó: é um capítulo à parte. Ela
foi elaborada por povos que habitaram a bacia Amazônica do ano 980 A.C.
até o séc. XVIII e é arqueológica. Através dela a gente pode observar a evolução,
o apogeu e a decadência da cultura de um povo. A riqueza de detalhes, a
exuberância das cores, a variedade dos objetos (como fusos, colheres, tangas,
bancos, estatuetas e adornos) , as técnicas de brunimento (alguns feitos com
conchas) foram perdendo qualidade com o tempo. Os grandes aterros de louçaria e
estatuetas encontrados na ilha de Marajó mostram bem esta falência. Hoje, o que
existe de cerâmica marajoara pode ser visto no Museu Goeldi, em Belém. Não tem
nada haver com as peças que encontram-se nas feiras de artesanato ou nas lojas
dos grandes centros que dizem vender peças folclóricas. Na maioria, esses
objetos são industrializados e não passam de tentativas grosseiras de cópias,
sem maior significado cultural